Um Desabafo...

Apesar de ter tido ótimas experiências neste pequeno tempo em que estivemos juntos, quero comunicar a minha impossibilidade de continuar com a equipe STS Recife por causa de minhas convicções pessoais.

Sempre fui duro crítico de corrupção e desigualdades sociais... Por isso, fui muito questionado quando de minha opção de trabalhar VOLUNTARIAMENTE para uma entidade que tão bem tipifica estes fenômenos.

Tentei tranquilizar a minha consciência afirmando que seria uma ótima experiência e que traria muito crescimento para mim; de fato foi. Tive oportunidade de exercitar idiomas, trabalhar em equipe com pessoas absolutamente estranhas, vencer situações críticas e – acima de tudo – tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis com histórias que me serviram de motivação e modelo.

Contudo, principalmente depois da eclosão de todos estes movimentos sociais pelo Brasil, percebi que minha atitude de cooperar com algo que vai de encontro a tudo aquilo que acredito por simples crescimento pessoal havia extrapolado o campo do egoísmo e entrado no da corrupção.

Decidi, então, apegar-me às minhas convicções e abandonar o posto de representante da FIFA para colocar-me ao lado do povo!

Devo ir à Arena ainda esta semana para devolver o uniforme e perguntar se posso guardar a credencial como lembrança.

Ao invés de estar hoje na bela Arena, estarei amanhã nas ruas. Afirmando que vi sim, todos os benefícios (e olhe que nem foram tantos assim) que a Copa trouxe ao estado. Vi que somos capazes de promover eventos do mais alto nível. Mas que tudo isto só fará sentido quando todos puderem usufruir destes benefícios. Quando houver metrôs passando de 4 em 4 minutos quando trabalhadores voltarem do trabalho, e não apenas quando turistas forem à Arena. Que tenhamos segurança para voltar para casa todos os dias, e não apenas quando a seleção espanhola estiver em nossas terras.

Estarei nas ruas dizendo que o Brasil será um país melhor não quando provar que consegue promover grandes eventos e ter economia entre as maiores do mundo, por que se assim fosse, as copas seriam talvez nosso maior trunfo; mas que nossa real melhoria acontecerá quando trocarmos os pilastes de nossa nação e ao invés de ordem, progresso e lucros; trabalharmos por amor, paz e justiça!

Estarei nas ruas abrindo mão do sonho de trabalhar na organização de um grande evento... De ver Pirlo jogar (posto que antes de Voluntário, eu já possuía ingresso para o jogo) e de tantas outras pequenas questões que envolviam o jogo por entender que o bem comum é mais importante. Por entender que não posso comemorar gols num evento que está sendo feito com dinheiro nosso sem que tenhamos tido a oportunidade de escolher se gostaríamos de aplica-lo no evento ou não. Dinheiro que poderia ser usado na resolução de problemas como a seca no nordeste (que só precisa de 1 bilhão de reais e um pouco de vontade política para ser resolvida); a melhoria da educação no país (com investimento, principalmente na capacitação e remuneração dos educadores); na modernização do sistema de saúde ou em várias outras questões mais importantes do que a promoção deste evento.

Termino lembrando meu objetivo não foi o de escrever um grande e bem escrito texto, nem de apresentar soluções inovadoras para o futuro do país e muito menos de arregimentar pessoas para me seguirem nesta decisão: estas linhas nada mais são do que o desabafo de alguém absolutamente apaixonado pelo seu país e que tem tentado – sempre e mais – dar a sua contribuição (ainda que aparentemente irrisória) para que haja mais pessoas felizes, mas amor, justiça e paz por achar que – por mais que muitos achem utopia – algum dia uma música cantada na Igreja se tornará realidade:

“UM NOVO TEMPO VAI NASCER, E O QUE ERA ENTÃO JÁ NÃO SERÁ MAIS COMO ANTES! [..] LIBERDADE E PAZ... ALIMENTO E TERRA! E TODOS OS DIREITOS DE SER CIDADÃO [...] ÀS CRIANÇAS PROTEÇÃO, AOS IDOSOS O CUIDADO; E A HUMANIDADE TODA UNIDA NUM SÓ CORAÇÃO [...] VEM, JÁ NÃO PODEMOS MAIS ESPERAR, É PRECISO HOJE MESMO MUDAR; VAMOS REDESCOBRIR O PAÍS, NOSSO PAÍS! [...] VEM... CHEGOU A HORA DE SER FELIZ!

Hugo Feitosa

STS / Recife