Fome não é tema de fácil abordagem. Grande ícone na literatura brasileira sobre o assunto, Josué de Castro a define como tema “delicado e perigoso”. Não obstante, é um tema que precisa ser muito debatido para que não incorramos no risco de torná-lo irremediável. Segundo Josué de Castro “O inevitável e irremediável permanece em tal estado quando permanece o mistério, o desconhecimento sobre o fato”.
Outra palavra de alto teor de significância é ética. Cheia de desdobramentos (ética cristã, profissional, familiar...) a ética torna-se ainda mais complexa quando se despe de adjetivos e aproxima-se de sua essência. Usualmente confundida com moral a ética é – em linhas gerais – a parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana.
O objetivo deste texto, entretanto, não é aprofundar em definições deste ou daquele termo, e sim iniciar uma discussão acerca de uma postura ÉTICA frente à FOME.
Logo, é preciso perceber que não há como manter-se ético frente à ameaça da fome sem combatê-la. Mas que tipo de fome precisa ser combatido? Claro que é urgente “dar” comida a quem não a tem; mas é preciso, também, ter em mente que isto não é suficiente para lograr êxito neste combate.
É necessário, neste combate, saber que tipo de fome se está combatendo. Assim sendo, uma pergunta emerge como ponto de partida nesta empreitada: Você tem fome de que? Em resposta a esta pergunta, a banda Titãs afirma eu sua música COMIDA:
“A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte [...] A gente não quer só comer, a gente quer comer, e quer fazer amor, a gente não quer só comer, a gente quer prazer prá aliviar a dor...”.
Há de se perceber – como fica claro nesta música – que a fome vai muito além da falta de comida. Com isso, fica também claro que a ética, frente a este problema não se resume à distribuição de cestas básicas em comunidades carentes.
Muitas comunidades abastadas de comida têm muita fome, também. Fome de paz; de justiça; de segurança; de afeto...
Então quem deve combater este fenômeno que, como disse André Mayer, “é um problema tão velho quanto a própria vida e quanto a humanidade”? TODOS! A responsabilidade de combate à fome é de cada um! Dom Helder Camara afirma que “A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome”.
Esta afirmação de alguém que não tinha “aparentemente” nenhuma fome, senão a fome de combater a fome, deixa clara a responsabilidade de todos frente à fome.
A ética frente à fome rege que todos tenham uma única fome: a fome de combater qualquer tipo de fome. Segundo o dicionário Houaiss a definição de fome se inicia com “Sensação causada pela necessidade de comer”; passa por “Miséria, penúria”; chegando a “Avidez, sofreguidão, desejo insaciável”.
Você tem fome de que? Esteja sempre ávido a lutar pelas pessoas que passam dias sofrendo com a sensação causada pela necessidade de comer! Mantenha um desejo insaciável de lutar contra a miséria (quer seja de dinheiro, alimento, paz, justiça ou amor)!
Esta é a única maneira de se manter uma postura ética frente à fome!
Hugo Feitosa
29/09/2011
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