Quando
o Cristo veio ao mundo, nasceu numa família simples, mas haviam muitas ricas.
Ele
nasceu no meio de animais, enquanto outros nasciam em palácios.
Ele
nasceu em um cidadezinha que de onde ninguém acreditava que viesse algo bom.
O
Cristo foi perseguido por um sistema religioso que não queria saber de gente
que trouxesse liberdade. Por isto, Ele
enfrentou gente que manipulava massas para manter seus obscuros projetos de
poder.
Gente
que, inclusive, planejou sua prisão e morte em nome de Deus.
O
Cristo foi “vítima”, também, de um governo que tinha mais compromisso com
agradar maiorias do que com justiça. Que
preferia a omissão que rendia “votos” e morte
do que a ação que proveria atritos com os donos do poder e vida.
O
Cristo passou por julgamento e tortura sem um mínimo de respeito à sua
humanidade, sendo condenado à famigerada pena de morte por gente que se achava
no direito de escolher quem deveria viver ou morrer.
Neste Natal, não é de se espantar que os que se dizem
seguidores deste Cristo não achem que têm responsabilidade em relação às
diferenças colossais entre as possibilidades de uma criança, dependendo da
família ou da cidade que ela nasça?
Como comemorar um natal que, a exemplo de quase tudo em
nossos dias, foi transformado em mais um momento de exacerbação de um sistema
malvado que acentua desigualdades e tira de muitos a dignidade do ser para que
outros possam ter?
Não é assustador, que saiba-se, em pleno Natal, que à
semelhança daquele grande dia em Belém, há mães horrorizadas por não saber onde
poderão aconchegar seus filhos que estão prestes a nascer?
Como entender, gente que subirá, hoje e amanhã, nos púlpitos
(por mais diferentes que sejam) para contar a história do natal sem mensagens e
atitudes libertadoras? Sem abrir mão de projetos de poder e sem disposição a se
doar a exemplo do aniversariante?
Como acreditar na bela mensagem natalina, quando contada por
gente que, ainda hoje, faz planos e tem atitudes que assassinam a essência de
amor e todos os ensinamentos que o Menino-Deus veio nos deixar?
Gente que mata – quer seja tirando a vida, a liberdade, os
sonhos, a humanidade, os direitos... – em nome de Deus!
Como ficar, mesmo conhecendo história tão incrível e
impactante, inerte frente a um governo que mente para o seu povo, defende bandidos
e acusa inocentes (qualquer semelhança não é mera conhecidência), loteia
ministérios (por mais importantes que sejam) e continua mais interessado na
manutenção do poder do que na promoção de justiça e paz?
Um governo que se vende às empreiteiras, igrejas ou
quaisquer outras instituições que possam lhe render dinheiro, poder e votos!
Como, mesmo lembrando das dores do Cristo-homem, aplaudir a
maneira absurda que nossos jovens (especialmente os pretos e pobres) são
tratados por uma polícia que deveria defendê-los? Como, a despeito de conhecer
a fonte de águas vivas, afirmar atrocidades do tipo: “Bandido bom é bandido
morto”?
É possível levar a palavra de transformação e esperança do
Cristo cujo nascimento comemoramos, e não lutar pela ressocialização e inclusão
de gente sem acesso à saúde, educação, segurança, afeto... Pilares básicos para
qualquer que tenha sido criado à imagem e semelhança do Cristo?
Esta mensagem pode ser divorciada de atitudes concretas de
transformação política e social?
Minha grande expectativa para esta noite, é que – quando o
relógio bater a meia-noite – o Cristo-Deus volte à terra, desta vez através de
seu Santo Espírito, visitando nossos corações e nos despertanto para que este
dia, 2014 anos depois, volte a ser marcador do início de uma nova história.
Oro ardentemente para que nossos corações sejam estrebarias
disponíveis ao nascimento de novos sonhos, utopias, esperanças, e atitudes tão
transformadores quanto a vida do Menino-Homem-Deus que terá (pelo menos em
tese) seu nascimento comemorado amanhã.
Um Feliz Natal com nascimento de novos tempos a todos nós,
especialmente no meu coração!
Hugo Feitosa
Olinda, 24/12/2014